Nunca fui um bom exemplo, mas era gente boa: um texto sobre adolescência saudade e os momentos que viram terapia.
Acho que queria começar isso aqui falando sobre uma música que, sem querer, despertou em mim a vontade de escrever sobre memórias, aquelas que apertam o peito com uma saudade boa. A música em questão é Memories, do David Guetta. Foda.
Memories é o tipo de som que belisca a nostalgia. Sempre que escuto, sinto como se estivesse dentro de um filme besteirol, fazendo todas as merdas possíveis ao lado dos meus amigos. E olha… ela já foi, por muitas vezes, a trilha sonora da minha vida.
“All the crazy shit I did tonight, those would be the best memories.” Sério, isso é surreal. Queria muito dizer que só a minha adolescência teve esse sabor caótico e doce ao mesmo tempo, mas a verdade é que, há uns seis meses, eu tava acordando com a maior ressaca da minha vida depois de uma das melhores noites que já vivi e sorrindo, porque sim, tinha valido a pena.
Minha alma pode até ser de uma idosa de 80 anos, mas quando o assunto é mergulhar de cabeça na zoeira, meus amigos são verdadeiros mestres. É dessas memórias que quero lembrar pra sempre. Quero poder contá-las pros meus filhos, e que eles contem pros meus netos, e que todos eles saibam o quanto eu fui gente boa.
Afinal, como já dizia Rita Lee: “Nunca fui um bom exemplo, mas era gente boa.”
Acho que isso me resume bem. Nunca fui exatamente um modelo de estabilidade emocional, mas quando alguém precisava desabafar ou ser ouvido, era a mim que procuravam.
Memories virou, pra mim, uma espécie de música-conforto. Daquelas que a gente deita pra ouvir e começa a lembrar o quanto já foi feliz, quantas besteiras viraram histórias, e o quanto estar viva é, no fim das contas, bom pra caramba.
A gente vive muito no automático. E nesse ritmo, parece que não há espaço para os “erros”. Julgamos os adolescentes — eu mesma julgo bastante —, mas esquecemos que já fomos eles. Esquecemos como era bom viver intensamente, fazer coisas idiotas que, por algum motivo, nos moldaram.
Quando me diziam que a adolescência era a melhor fase da vida, eu retrucava: “Imagina a pior.” Hoje, com alguma bagagem, sou eu quem digo: a adolescência foi, sim, uma das melhores fases.
E no fundo, talvez seja isso mesmo: “That would be the best therapy for me.”